29 de abril de 2007

Falta

é o chá sem açúcar
o café que esfriou
é o fio que soltou da tomada
dois dedos de suco na jarra
é o fim da pilha
o fim da grana
telefonema que caiu
na secretária eletrônica
é a roupa rasgada
a sacola furada
corda do violão que arrebentou.

27 de abril de 2007

Casa Vazia

Hoje eu não estou.
Nem ouse tocar a campainha.
Não bata na porta.

A luz acesa na varanda
é só para espantar os bandidos.

Não estou para livros de sintaxe.
Não estou para novelas de amor.
Não estou para gente chata.
Não estou para birra de criança.

Saí para me procurar em outras terras.
Desci a serra;
vou me encontrar com o mar.

Deixei minha mala no topo da montanha.

26 de abril de 2007

O poço

eu sou um poço de subjetividade
ambulante.

circulo nas ruas à procura de imagens
cabíveis em versos.

mais do que isso:
me sinto no dever de traduzir
a poesia das sombras,
o mau cheiro da água suja;
o lirismo da terra seca,
e do copo vazio de água, mas cheio de ar.

estou cheia de mim -
a ambiguidade é a marca do meu estilo.
o paradoxo é a figura que me alimenta.

e muita gente não entende o que digo.
e muita gente sequer pode vislumbrar
- o que há no meu poço.

22 de abril de 2007

Ah...! Um poema!

Este poema acordou cedo
do meu lado,
quando o relógio tocou.

Cada frase, uma carta,
formando uma pilha
de pensamentos
desalinhados.

Cartas brancas,
frente e verso.
Pesquei-as com minha pinça;
uma a uma
espalhei-as sobre o lençol.


Dei-lhes minha sequência subjetiva.
Colei nelas o meu mau-humor matinal.

E as cartas gritaram.

16 de abril de 2007

Castelo de cartas

E agora vem abaixo
o nosso castelo de cartas,
que construímos
sobre bases movediças,
que não seguram nada.
Caem diante de nós,
sob nossos olhos perplexos,
as nossas máscaras.