27 de junho de 2006

A voz e a vez

“… escrevi-o com a pena da galhofa e a tinta da melancolia,
e não é difícil antever o que poderá sair deste conúbio.
A obra em si mesma é tudo:
se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa;
se não te agradar, pago-te com um piparote, e adeus.”

- Machado de Assis
(In: Memórias Póstumas de Brás Cubas)


O tempo inteiro procurei você.
Esta fase deixo com uma sensação,
de missão cumprida,
de matéria lida;
de ter tentado ganhar sempre a sua atenção.

Faltava-nos um certo quê de acordo,
uma certa forma de expressão.
Cansei-me de rodar por esse círculo,
indo contra a sua direção.

Me cansei de procurar por algo,
que pra mim jamais irá voltar.
Mas ainda acredito, mesmo assim,
em almas gêmeas, corações irmãos.

Não suporto essa conversa tola
Já cansei-me desse vai-e-vem.
Tantas coisas que eu tentei dizer,
E você nem quis saber, meu bem.

Agora não consigo evitar,
Talvez eu deixe tudo para lá.
Me cansei de procurar por algo,
Que não ficou do lado de Cá.

Tudo foi embora como na canção,
Já me conformei com esse fato.
Cansei-me da rotina, dessa minha sina,
de tentar tocar meu violão.

O que você disser, nada vai mudar.
Este meu café já se esfriou.
Esqueça dessa vida, desses nossos laços,
pois esta nossa fase já passou.

9 de junho de 2006

Enigma Claro

Eu não quero comentários para esse poema.
Quero apenas escurecê-lo
com tinta guache preta.

Não quero frases emotivas,
que causem prazer,
ou que possam ser compreendidas.

Quero apenas o que é torto,
o que é feio
o que espanta,
o que assusta
o que causa repulsa.

Neste poema, pulsam meus medos.
A falta eterna de palavras
extravasa pelos meus dedos.

Estou farta de escrever pra o outro entender.
Cansei-me dos lugares comuns,
das rimas raras
da métrica que jamais alcancei.

Não sei palavras poéticas.
Desconheço verbos que impressionam.
Eu falo.

E o que falo só eu posso entender.

Eu quero um poema que é e não é.
Não quero metáforas claras
Não quero cenas de amor.
Apenas um poema escuro,
um poema sem sabor.


Esses versos conversam com estes aqui.

8 de junho de 2006

Poeminha nonsense

A nuvem escura desfez-se no céu,
E manchou o meu rosto de rímel.
Era um dia cinza aquele,
E o lodo crescia no asfalto.
Na minha xícara, o café frio.
Na minha cama,
um-metro-e-sessenta de cansaço.
Ao longe, a conversa do vizinho
Ao som de um sertanejo que falava de amor.
Imprimi minha marca na poeira que voava no ar.
Não era delírio,
Elas dançavam uma ciranda encantada.
E eu dançava também.