31 de julho de 2005

Frustração

Fiz as unhas
Pintei os olhos
E era só pra te ver.
Botei o vestido branco
Calcei as luvas
E era só para ver
O olhar nos seus olhos
O suor em sua testa
O sorriso em seus lábios.

Mas você?
Você não veio me ver.
E a pintura borrou,
O vestido amassou
As luvas, tirei.

Nos meus olhos há lágrimas.
A minha testa franzida.
Em meus lábios, calor.

23 de julho de 2005

Abra-cada-livro

Abra um livro de cada vez,
Mas abra cada um deles.
Lá dentro há muitas vozes
E estão todas silentes,
em estado latente.
Para despertá-las,
Não há truques, nem palavras mágicas.
Basta entrar no mundo delas
E, então, deixá-las falar.
A leitura é um diálogo interior.

21 de julho de 2005

Ponto de vista

Quando eu era menina,
olhava para o céu
e me imaginava presa dentro de uma bola,
pintada de azul e branco.

E eu lá, fechada, confinada em seus limites.
E o mundo era essa bola
E nós tudo dentro dela.

Depois entendi que assim não era.
O céu não é o fim, nem o limite de nada.
Apesar de dizerem que é para lá que as pessoas boas vão.

19 de julho de 2005

Espelho

Meu corpo é um texto
Teu olhar o contexto
Triste
Enigmático
Alegre
Solitário
O que meu rosto mostrará
É teu olhar que ditará
Corpo, cópia, escrita, arte
Meu olhar é o espelho do teu.

14 de julho de 2005

Encontro

Hora do almoço
Pés arrastantes
A brisa suave
Ele apareceu

Prato e copo nas mãos
Andar confiante
Assentou-se
Comeu

O rosto inclinado
O olhar afastado
Distante do meu

A face corada
O olhar vacilante
O sorriso escondeu

Uma linha do tempo
Fez-se eterno o instante
Um encontro se deu.

13 de julho de 2005

Haicai Frustrado

5 / 7 / 5
Meu haicai não tem.
Não sou poeta.

Uma partida de futebol

A voz
A molecada
A torcida
Animada
O grito
O choro
O aglomerado
O socorro
O apito
A falta
O chute
O fora
O toque
O passe
O goleiro
A trave
A areia
O vento
A altura
O tempo
Os gritos
A mancada
A bola
A vidraça quebrada.

10 de julho de 2005

Nada Sei

Eu não sei
se devo partir.
Você me diz que sim,
Me faz ficar com raiva de mim.

Eu não sei
se devo voltar
para o meu lugar
os seus braços, meu amor.

Eu não sei
se fico aqui,
olhando-lhe assim,
sentindo esta dor.

9 de julho de 2005

Ambigua-idade

O que há nesse seu jeito que me espanta?
O que há no seu sussurro que me irrita?
In-versos você me fala toda vez
Enigma doce e amargo que me faz doer.

Mas se quer que eu entenda, pra quê mistério?
Se quer que eu mude, por que não diz?
Comporta-se como homem e menino
Torna mel e doçura em momentos gris.

Se está tudo claro, pra quê trovão?
Se estamos de bem, pra quê intriga?
Bate o pé, começa a briga.
Cai em si, pede perdão.

Quedo perplexa frente a isso
Fico muda, sem saber reagir
Minha inexpressividade lhe irrita
Meu silêncio lhe seduz.