2 de abril de 2010

poema sobre o eu

saí pela rua à procura de mim
e me achei partida e esquartejada,
qual fragmento de louça quebrada.

ali, nas paredes grafitadas;
no muro antigo, no reboco à mostra,
nas canções das esquinas,
no barulho dos carros.

era eu, e ninguém mais.
espelho, espelho meu.

era eu no olhar do mendigo.
no chapéu com esmolas.
na porta da escola.
esperando o táxi.

atravessei na faixa,
cortando o olhar dos estranhos;
que ao mesmo tempo não o são.

a poesia das ruas me mantém embriagada.

Um comentário:

Razek Seravhat disse...

Seu poema me faz lembrar de sonhos desfeitos e sorrisos consumados. Arrisco a dizer que lembra de forma terna de Clarice: "A tarde, seus olhos azuis..."

Ternura sempre,

Se quiser retribua a visita seguindo voo da esperança